A precariedade laboral tornou-se uma das marcas do mercado de trabalho português, afetando especialmente os jovens, os trabalhadores com menor qualificação e os que operam em setores como a cultura, o ensino ou o comércio. Contratos a prazo, recibos verdes e baixos salários são realidades quotidianas para milhares de pessoas, com impactos profundos na estabilidade financeira, na saúde mental e na capacidade de planear o futuro.
Esta realidade tem raízes históricas que se agravaram com a crise financeira de 2008 e as reformas laborais que flexibilizaram o mercado, mas reduziram a proteção dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a digitalização e a automatização de processos alteraram a natureza do trabalho, substituindo postos estáveis por serviços esporádicos, freelance ou por plataformas digitais sem vínculos laborais tradicionais.
Muitos trabalhadores permanecem numa espécie de “limbo profissional”, sem acesso a benefícios sociais plenos, como subsídio de desemprego, licença parental ou segurança na reforma. Para além do impacto pessoal, esta situação afeta também a economia nacional, uma vez que reduz o consumo interno, dificulta o acesso à habitação e enfraquece a arrecadação fiscal.
A solução para a precariedade não será simples nem imediata. Implica rever o código do trabalho, reforçar os mecanismos de fiscalização, apoiar as microempresas e promover modelos económicos mais cooperativos e sustentáveis. A estabilidade laboral deve ser encarada como uma prioridade política e económica — não apenas como um direito individual, mas como uma condição essencial para o desenvolvimento social.